O TESOURO
Remontamos
a 1569, quando eu e a minha tripulação estávamos a navegar pelos fabulosos
mares das Caraíbas e, ao remexer nos documentos do meu pai, encontrei uma velha
e misteriosa carta.
Pedi
ao Daniel, companheiro de sempre das minhas viagens (e que estava comigo
naquele preciso momento), que traduzisse a carta, pois ele entendia melhor do
que ninguém a letra do meu pai e conseguia decifrar cada gatafunho, não tivesse
ele trabalhado junto do meu pai, durante quase toda a sua existência.
Daniel
começou a ler e rapidamente percebemos que a carta nos dava pistas de um
tesouro escondido e eu perguntei-me como é que o meu pai conseguira guardar
aquele segredo até morrer.
Chamei
toda a tripulação e decidi partir de imediato para o local marcado com uma cruz.
As indicações levaram-nos a uma ilha, que nem sabia que existia!
Enquanto
pisava a areia quente de terra firme, repetia as palavras que tinham sido
escritas pelo meu pai e lidas pelo Daniel, naquela carta:” Vê a criança que
está dentro de ti”. Mas... O que é que o meu pai quereria dizer com isto? A
criança que vivera dentro de mim, já tinha partido há muito tempo, para a Terra
do Nunca ou para outro lugar qualquer... Já não existia, pois eu era mais a
versão Capitão Gancho do que Peter Pan e não poderia encontrá-la para lhe
perguntar onde estava o tesouro...
De
repente, recordei-me de uma música que meu pai me cantava em pequeno e a letra
soltou-se da minha voz, como se a tivesse ouvido todas as noites, ao longo de
todos estes anos sem ele:
“♪ No meio da floresta,
O vento sopra violento
Não pares, não faças a sesta
Fica sempre muito atento!
Da árvore mais alta à mais baixa
Para a meio do caminho
Este é o momento da tua vida
Pensa se queres ir sozinho... ♪”
Foi aí
que se fez luz!… Deixei a tripulação para trás, entrei pela floresta, avancei
pelos arbustos, parei entre duas árvores (que me pareciam a mais alta e a mais
baixa da mata) e comecei a escavar furiosamente. Ao descobrir um baú, abri-o
cortando o cadeado com a espada e deparei-me com uma caixa com o colar da minha
mãe (que eu julgava perdido) e, por baixo dessa caixinha, estavam dez barras de
ouro com a seguinte mensagem:
“Tenho
a certeza de que chegarás aqui, porque as lembranças são o nosso maior tesouro!”
Sorri.
Sabia lá eu o que tinha sido mais importante descobrir nessa tarde... É que (vocês não percebem...), mas esta é única
forma que um pirata tem para dizer que ama.
Mariana Santos