MEU QUERIDO ALENTEJO
Era uma calorenta tarde alentejana
de verão, exatamente como todas as outras anteriores e igual às que estavam
para vir. Tinha de tudo para ser uma tarde rotineira no Alentejo, sítio onde no
verão se vê vestígios de plantas outrora vivas e onde os filhos e netos dos
guardiões ancestrais da aldeia se reúnem.
Todas as tardes nós, os rebentos da
aldeia, íamos à piscina (exceto à segunda, que a piscina fechava para limpeza,
mas isso é o que menos interessa para a história). Era algo muito banal, mas
posso garantir que nunca ninguém se aborrecia de o fazer.
Mas, para mim, esta tarde era muito
diferente. Talvez não o fosse para os outros mas, para mim, era de certeza,
pois era o dia em que o senhor Zé, tio de um dos meus amigos (um herói que nasceu
surdo e mudo, cuja história de vida contarei numa outra ocasião), ia ensinar-me
a nadar sem braçadeiras – pode não parecer nada de especial, mas para uma
criança de 5 anos, podem crer que era!
Eram
4 da tarde, a piscina estava a abrir e a minha odiada digestão estava a acabar.
Corri ao quarto para calçar os chinelos, pegar na minha toalha e no bilhete de
entrada para a piscina e foi então que algo aconteceu. Ao abrir a porta da rua,
deparo-me com a situação mais emocional e surreal que algum rapaz de 5 anos
pode viver. Olhei para o chão e, surpreendentemente, este estava cheio de
granizo. A minha primeira reação foi olhar para o céu e foi quando o foquei, que
o tempo parou.
Não
houve tempo para me questionar sobre o facto de o termómetro rondar os 40ºC e
estar a chover granizo, nem de ficar triste, porque o senhor Zé não me podia
ensinar a nadar, com o chão cheio de granizo. Não houve tempo para nada disso
porque, como eu disse, o tempo parou - mantendo-se o granizo suspenso no ar e a
minha cara de quem acabou de perceber que nunca poderia prever nada do que
estava para vir, continuou a espectar o céu. Pelo menos é assim que eu me
lembro.
João Balau
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